A primeira sessão da Câmara Municipal de Araraquara, que deveria simbolizar o início de um novo ciclo político, foi marcada por um episódio alarmante de transfobia e violência política de gênero. A vereadora Filipa Brunelli (PT), reeleita como a única mulher transexual da Casa, teve seu discurso de posse brutalmente interrompido por vaias, xingamentos transfóbicos e gestos de arma por parte de apoiadores da extrema direita, base do prefeito eleito, presentes na cerimônia.
Dos 18 vereadores eleitos, Filipa foi a única a enfrentar tamanha hostilidade. Apesar das tentativas de silenciamento, ela demonstrou firmeza ao invocar o regimento interno da Câmara, exigindo que a presidência mantivesse a ordem no plenário e garantisse seu direito à palavra. Forçada a elevar o tom de voz para concluir seu pronunciamento, a vereadora precisou praticamente gritar para que sua mensagem fosse ouvida, um retrato claro da violência que sofreu em um espaço que deveria ser de diálogo democrático.
Procurada após a sessão, Filipa relatou o desafio emocional e físico enfrentado no plenário lotado, repleto de olhares de ódio e falas intimidatórias. “Busquei resistência na minha comunidade para me fortalecer. Foi doloroso, mas também um lembrete de que corpos como o meu precisam estar na política para que essas barreiras sejam enfrentadas e derrubadas.”
A vereadora destacou que o episódio é mais uma prova de que a democracia brasileira ainda falha em garantir os mesmos direitos políticos a pessoas dissidentes. Ela relembrou ainda as ameaças de morte recebidas em 2020, durante sua primeira eleição, quando precisou ser escoltada pela polícia da Câmara até sua casa.
Apesar dos ataques, Filipa Brunelli manteve a compostura e reafirmou seu compromisso com a luta por uma sociedade mais igualitária. “Não vou me intimidar. O que aconteceu hoje só reforça o quanto a democracia precisa ser defendida e o quanto ainda temos que avançar. Não me calaram antes e não me calarão agora.”
O episódio reacende o debate sobre a violência política de gênero e transfobia no Brasil, um país que ocupa os primeiros lugares no ranking de assassinatos de pessoas trans. A presença de Filipa na Câmara é um símbolo de resistência, mas também um alerta de que a luta pela inclusão e pela garantia de direitos ainda é urgente.
A atitude da vereadora, ética, empoderada e resistente, serve de exemplo não apenas para sua comunidade, mas para todos que acreditam na importância de uma política verdadeiramente democrática e inclusiva.